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D. [da série: contos eróticos cafonas]

  • V.
  • 29 de jun. de 2023
  • 2 min de leitura

Atualizado: 30 de jun. de 2023

Era um desses dias que fico sorridente, então saio de casa para contagiar bocas rígidas. E era extremamente rígida a boca de D. Estávamos numa mesa de boteco tão cheia que parecia aniversário de alguém, mas não era. Eu conhecia duas pessoas, mas estava tão sorridente que todo mundo me tratava como se me conhecesse. Ele estava na outra ponta, tão distante em todos os sentidos da palavra. Reconheço uma pessoa tímida pelo olhar (ou falta dele) e foi bem aí que decidi que iríamos unir nossa timidez. Minha amiga duvidou. Disse que estava lá há horas e ele não havia falado nada, que mal bebia, que parecia um robô. Gargalhei, isso era mais fácil do que eu havia imaginado. Pessoas tímidas funcionam muito bem se você falar com elas à sós. Em grupo a coisa fica um pouco difícil. Decidi esperar mais. Esperar é visto como mistério, mas eu só queria que N., o cara ao meu lado, - que já havia me bloqueado por não corresponder com as expectativas esquisitas e mimadas dele - me desse logo um beck e fosse embora. Tive que ouvir histórias sobre sua mãe por alguns minutos até conseguir me desvencilhar. Abracei minha amiga e disse em seu ouvido que eu ia embora com o rapaz tímido. Ela sorriu duvidosamente, mas sabendo que no fundo existia uma corda invisível que eu iria usar. Me despedi de todos, o que em dias normais detesto, mas repito que estava distribuindo simpatia esse dia. Na vez de D. perguntei seu nome. Antes que ele perguntasse o meu perguntei se ele queria ir para casa comigo. Ele apenas se levantou e segurou minha mão. Gostei disso. Acho que escutei alguns gritinhos infantis vindos da mesa de não-aniversário, mas eu só conseguia prestar atenção no meu braço encostando no dele. Forte, bem forte, com direito a veias saltando e tudo. Um primor de braço. Imaginei sua timidez indo embora enquanto puxava pesos na academia. No caminho ele apertava minha mão como se estivéssemos subindo uma montanha russa. Quando chegamos em meu apartamento coloquei uma música e olhei para ele. Estava com os braços unidos, não entrelaçados, um em cima do outro, quase abraçando a si mesmo. Apesar de mais velho do que eu, parecia um garoto morrendo de medo. Isso me fez querer girar em sua frente, como quem diz que nada seria levado a sério, que a descida da montanha russa não era de todo assustadora. Rodei, sorri e o despi. Tirei fotos, examinei suas panturrilhas. Elogiei seus olhos sem tom de romance. Olhos rasgados daquele jeito são lindos com qualquer intenção.

 
 
 

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