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V.

R. [da série: contos eróticos cafonas]

Atualizado: 6 de mar.

A teia de aranha e o tom baixo da fala instantaneamente me puxaram para perto dele. Eu queria olhar e ouvir. As lentes dos óculos tão grossas tornavam seus olhos bem miúdos. Não imaginei que ele fosse querer ficar comigo, na verdade nem desejei. Pedi uma carona, pois era caminho. Seu amigo ficou assustado, parecia ter visto a palavra predadora escrita em minha testa. Nesse dia eu estava tranquila, apenas querendo economizar para ir para casa e talvez ouvir a voz dele um pouco mais, dentro da acústica de um carro. Ele disse que me levava, mas pareceu intrigado. Se eu fosse homem tudo seria mais natural. Dentro do carro ele pouco falou. Eu não estava de muitas palavras esse dia também. Queria continuar bebendo, como sempre. Não queria companhia, queria chegar em casa e ouvir minhas músicas. Mesmo assim o chamei. Eu estava estranha, soturna, fechada. Mesmo assim ele aceitou e quando o fez eu decidi ser a melhor versão que dava para eu ser naquele dia. Ledo engano, fui minha pior versão. Agi como uma serial killer, o assustei com frases desconexas não propositais. Músicas pesadas, luz apagada, nenhuma libido. Ele e sua teia de aranha continuaram no sofá da sala. Calmo demais, calmo até demais. Me irritei. Quanto mais escrota eu era, mais ele parecia grudar em meu sofá. O beijei com raiva. Parecia um boneco inflável. Eu poderia fazer o que quisesse e aquele dia eu só queria destruir algo. Ele permaneceu. A calmaria da personalidade, a rebeldia da teia de aranha. Penso que ele gostava de ver o circo pegar fogo e eu lhe dei um espetáculo.

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