a parte mais irônica de ter passado anos olhando para aquela cortina é que eu não tenho nada bom para falar dela. me colocou em estado meditativo de ódio. eu envelheci por dentro: o silêncio não trabalha bem com rancor. é impossível lhe escrever um cartão. não tenho nada bom para falar de ti. até o que eu gosto em você é errado demais para compor um pedaço de papel enfeitado. e o que era bonito mostrou-se como mecanismos sociais tirando, assim, toda autenticidade e beleza dos atos, das palavras. quando eu via o dedão do seu pé dobrado por consequência de sua concentração em algum afazer, naquele momento eu sabia que era você puro. nosso coração é parecido, tipo um dedão entortado e língua para fora enquanto tenta colocar a linha na agulha.
V.
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Atualizado: 1 de fev.
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